sábado, 15 de dezembro de 2018

Então é natal, e o que você fez?

Aproveitando o final de semestre e o espírito natalino (e alguns pensamentos atrasados do dia do professor), aproveitei para pensar um pouco sobre meu trabalho.

Percebi que tenho me tornado cada vez mais rígido com relação aos critérios que estabeleço no início do semestre (com relação à data e trabalhos, atividades extra, etc.).

E do ponto de vista pessoal, o motivo principal dessa mudança é: Tenho imensas dificuldades em lidar com as histórias e problemas de cada aluno, e ser justo ao mesmo tempo. Estar emocionalmente disponível é extremamente desgastante e penoso para mim.

Quanto às implicações dessa escolha, uma delas sem dúvidas ser menos visto como um "cara legal" e mais como um professor como qualquer outro. Ser visto como um entre tantos era um problema quando comecei a lecionar, e aparentemente hoje não mais (haha). Dessa forma, quase todos os amigos ex-alunos que tenho são dos meus primeiros dois semestres aqui (estou aqui há cinco semestres).

Essa mudança também tem a ver com o que acredito ser uma idealização problemática da profissão de professor, onde muitas vezes se confunde a competência e "humanidade" com a capacidade de levar em conta questões pessoais dos alunos. Isso faz com que elementos profissionais como a preparação de aulas e atividades (o que no meu caso é o que toma a maior parte do meu tempo de trabalho) muitas vezes sejam percebidos em segundo plano. Penso nisso há algum tempo, e se alguém tiver alguma referência sobre este assunto peço que me envie <3.

Não me arrependo; Quando cheguei aqui, estar sozinho numa cidade pequena com poucas opções culturais (ainda mais pra quem acabou de chegar) implicava que quase tudo (ou literalmente tudo) que me interessava envolvia a universidade. A transição de que falo tem sido benéfica para mim; Tenho conseguido organizar melhor minha vida, e os finais de semestre têm sido menos tortuosos. Outro fator é que vim da Unicamp, universidade onde as regras são bastante claras e até opressivas, então senti que era uma oportunidade de observar o desenvolvimento de alunos sem tantas restrições. Enquanto experimento, foi muito positivo.

Para concluir, acredito que por trás da "naturalidade" dos professores que se admira, existe *muito* trabalho fora da sala de aula. Até porque, como diria Leminski, "A liberdade é ouro. Tem que ser garimpada.".