domingo, 12 de agosto de 2018

O bonde do mal passou, e eu disse: "Hoje eu não vou"

Parte Um: O clichê necessário, conquistas e uma dica sobre o verso final

Este dia dos pais me permite destacar precisamente a falta que meu pai me faz. O que mais me faz falta é dividir as coisas. Até hoje me pego pensando no que meu pai diria de coisas dos dias de hoje (Game of Thrones, novo Star Wars, Interstellar), ou das coisas que já existiam mas ele não sabia da existência, ou das coisas que ele sabia e não me contou, ou contou e eu não prestei atenção. Tudo isso dá no mesmo (Gentle Giant, Univers Zero, Rupaul, Paris is Burning, Blade Runner, Thelma e Louise).

"But what the hell is success, if the mess ain´t changing?":
Uma coisa muito curiosa é como as conquistas da vida estão ligadas aos pais. Quando descobri que tinha passado no concurso da UFOP, imediatamente pensei em ligar para meu pai (e veja, à época fazia 5 anos que ele tinha morrido). Toda conquista tem um gosto diferente, e não se sabe a quem ou a que parte de você mesmo se agrada ou desagrada. E que sentido faz talvez se tornar o pai de alguém? Quer dizer, isso é conquista? Se for, é de quem, para quem? Eu seria capaz de alertar melhor, viver um pouco mais, tornar isso mais gradual? Se conseguisse, faria diferença? E essa conquista, seria de quem?

"Any day now, any day now, I shall be released".

Parte Dois: Um quase verso e uma birra de filho


Hoje acordei com o barulho de um acidente de moto na frente de casa. Uma hora depois a ambulância o levou. Levou junto tudo o que eu poderia saber sobre ele. Como ele está agora? Ele era pai? Nunca saberei. Tenho que viver com o pouco que sei. E se "morrer é não ser visto" e eu nunca mais o verei, isso é tão obscuro quanto o que sei ou acho que sei ou nunca saberei sobre meu pai.

Hoje pensei em gravar uma música do Queen no baixo pro meu pai. Não vou fazer isso, não só porque não está bom o suficiente. Talvez se treinasse hoje o dia todo conseguiria... Ao menos escrever isso aqui me tira o peso na consciência de não ter um presente. Um motivo mais poético pra não gravar o vídeo é: Eu já tocava violão há dois anos, e ele nunca viu. Quer dizer, tentei mostrar uma vez a música "Heart of Gold" do Neil Young, ele falou pra eu parar de atrapalhar a conversa (pode rir, se quiser). Então, tenho birra e fiquei com raiva dele e de mim mesmo. Se não gravar, que diferença faz? (escrever também não faz, mas me faz algum bem saber que menos pessoas lerão isso que veriam o vídeo, mas os poucos que lerem saberão mais sobre mim que um "Crazy Little Thing Called Love" meia boca).

O verso

Hoje acordei com a frase do Lord: "Responsa é minha pena sem fiança"./
Responsabilidade é sim uma prisão, mas, já que estou aqui, e nenhum dinheiro me tira dessa tranca,/
Faço o que posso para que as memórias do meu pai não me fujam./
Mas prendê-las também as muda, como alguém muda depois da prisão. Qual a opção, então?/
Troco um crime pelo outro se dizer que não me afeta/
Amiga dialética já me ajudou neste problema. Mas hoje não.
Prometi ao Rafa que escreveria verso sobre meus pais. Tá aí em cima, comecei hoje.